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By Ferramentas Blog

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Drácula

e amedrontado. A carruagem avança com rapidez, depois fez uma curva completa e entrou em outra estrada. Minha impressão ~é que o carro passava constantemente pelos mesmos lugares e, realmente, prestando atenção, numa saliência, vi que era isso que estava acontecendo. Não tive, porém, coragem de perguntar ao cocheiro o que significava aquilo. Não adiantaria meu protesto, no caso dele estar mesmo atrasando a viagem, deliberadamente. Tive curiosidade, contudo, de saber as horas e, com um fósforo aceso, consultei o relógio; faltavam poucos minutos para meia-noite. Senti um certo choque, pois creio que a superstição a respeito da meia-noite, tão espalhada, aumentara, com as minhas recentes experiências. Aguardei os acontecimentos, numa expectativa desagradável.
Depois, ouvi um cão latir ao longe. Outros latidos foram respondendo, até que, trazido pelo vento que agora soprava de leve sobre o Passo, chegou aos meus ouvidos um urro selvagem, que parecia vir de muito longe, tão longe quanto a imaginação pode alcançar. Ouvindo o uivo, os cavalos começaram a ficar indóceis, mas o cocheiro lhes falou com voz calma e eles se aquietaram. Depois, muito longe, vindo das montanhas de ambos os lados, começou um uivo mais forte e mais agudo — que afetou da mesma maneira a mim e aos cavalos. Tive vontade de pular da caleça e sair correndo e os cavalos se empinaram e relincharam, sendo preciso o cocheiro empregar toda a sua força para contê-los. Dentro de alguns minutos, contudo, meus ouvidos se acostumaram com aquele som e os cavalos ficaram tão calmos que o cocheiro pôde descer do carro e se colocar diante deles, acariciando-os e falando-lhes no ouvido, como eu tinha ouvido dizer que os domadores de cavalos costumam fazer, e com grande resultado, pois os animais se mantiveram inteiramente calmos, embora ainda tremessem. O cocheiro voltou para o seu lugar e tocou o carro a grande velocidade. Dessa vez, quando chegou à extremidade do Passo, virou, de súbito, para um caminho, que fazia uma curva apertada para a direita.
Árvores margeavam o caminho e, de novo, grandes rochedos surgiram de ambos os lados. Apesar de estarmos abrigados, podíamos ouvir o sibilar do vento. O frio aumentava e a neve começou a cair, em flocos muito finos. O vento ainda nos trazia o latido dos cães, embora cada vez mais fracos. O uivo dos lobos parecia, ao contrário, cada vez mais próximo. Tive receio de que os cavalos partilhassem meu medo. O cocheiro, contudo, parecia imperturbável; olhava ora para a esquerda, ora para a direita, mas eu não conseguia distinguir coisa alguma no meio da escuridão.
De repente, vi brilhar uma luz azulada à esquerda. O cocheiro a viu no mesmo momento; deteve, imediatamente, os cavalos, saltou do carro e sumiu nas trevas. Eu não sabia o que fazer, principalmente com o uivo dos lobos cada vez mais perto; mas, enquanto estava pensando, o cocheiro reapareceu e, sem dizer uma palavra, sentou-se no seu lugar e continuamos a viagem. Creio que adormeci, e comecei a sonhar com o incidente, pois ele se repetiu indefinidamente, e agora, relembrando-me, tenho a impressão de um pesadelo horrível. Certa vez, a chama apareceu tão perto da estrada que, apesar da escuridão que nos cercava, pude distinguir as feições do cocheiro. Ele se dirigia rapidamente para o ponto onde aparecia a chama azulada — que devia ser muito fraca, pois não parecia iluminar o local situado em torno dela — e, apanhando algumas pedras, arranjava-as de certo modo. Certa vez, surgiu um estranho efeito ótico: quando o cocheiro ficou entre mim e a chama não, obstruiu sua luz fantasmagórica. Isso me intrigou, mas o efeito foi momentâneo. Depois, as chamas azuis sumiram entre a escuridão, com o uivo dos lobos em torno de nós, como se os animais nos estivessem seguindo, num círculo envolvente.
Afinal, houve uma ocasião era que o cocheiro avançou mais do que das outras vezes e, durante sua ausência, os animais começaram a relinchar e pinotear, apavorados. Não compreendi o motivo disso, pois o uivo dos lobos cessara inteiramente; justamente então, a lua, irrompendo entre as nuvens escuras, surgiu atrás de um rochedo e, à sua luz, vi um círculo de lobos, com os dentes pontiagudos e as línguas pendentes. Senti-me paralisado pelo medo.
Todos juntos, os lobos começaram a uivar, como se a lua tivesse algum efeito peculiar sobre eles. Os cavalos empinavam, desesperados, mas o círculo vivo do terror os cercava por todos os lados e eles tinham de ficar dentro dele. Gritei chamando o cocheiro, pois compreendi que a única solução seria tentar romper o círculo dos lobos, e, para ajudá-lo a se aproximar, comecei a gritar e bater com as mãos no lado de fora da caleça, na esperança de assustar os lobos que estavam daquele lado, e dar ao cocheiro uma oportunidade de se aproximar. Como ele chegou, não sei, mas o fato é que ouvi sua voz, dando uma ordem imperiosa e, olhando para a direção de onde partia o som, eu o vi de pé na estrada. Agitou os braços, como que afastando algum obstáculo impalpável e os lobos recuaram. Nesse momento, uma pesada nuvem obscureceu a lua, e as trevas reinaram outra vez.
Quando pude distinguir as coisas de novo, o cocheiro estava entrando na caleça, e os lobos tinham desaparecido. Era tão estranho que um pavor indizível me dominou e tive medo até de falar ou me mexer. Continuamos a subir, descendo às vezes, mas quase sempre subindo. De repente, notei que o cocheiro estava fazendo os cavalos entrarem no pátio de um vasto castelo arruinado, de como nas janelas não vinha um só raio de luz.

CAPÍTULO II

DIÁRIO DE JONATHAN HARKER
(Continuação)
5 de maio — Eu devia ter dormido, pois, se estivesse inteiramente acordado, tetia notado a aproximação de um lugar tão notável. Na escuridão, o pátio parecia muito grande e vários caminhos escuros davam para ele, através de grandes arcos arredondados, que talvez parecessem maiores do que eram na realidade.
Quando a caleça parou, o cocheiro me ajudou a descer. De novo não pude deixar de notar sua força prodigiosa. Em seguida, ele tirou minha bagagem, que colocou no chão ao meu lado, diante de uma grande e velha porta de ferro, que se abria na parede de pedra. Subindo de novo para a caleça, o cocheiro sacudiu as rédeas, os animais partiram e o carro desapareceu numa das passagens escuras.
Fiquei em silêncio, onde estava, sem saber o que fazer. Não havia sinal de campainha, ou de aldrava e não parecia provável que minha voz penetrasse aquelas paredes e janelas escuras. Tive a impressão de ter esperado um tempo infinito. Em que lugar viera me meter, e com que espécie de gente? Seria essa uma aventura banal na vida de um mero ajudante de procurador, que tinha de explicar a um estrangeiro a compra de uma propriedade em Londres? Ajudante de procurador! Mina não gostaria disso. Procurador, pois pouco antes de sair de Londres eu soubera que fora feliz no concurso que fizera. Era, agora, um procurador.
Tive de me beliscar e esfregar os olhos, para ver se estava acordado. Aquilo tudo estava me parecendo um pesadelo horrível e esperava acordar, de repente, em minha casa. Mas meus olhos não me iludiam. Estava realmente acordado, nos Cárpatos. A única coisa que me restava era ter paciência e esperar o amanhecer.
Justamente quando chegara a essa conclusão, ouvi, por trás da porta, passos pesados que se aproximavam. Uma chave girou na fechadura, com um rangido característico do desuso, e a pesada porta se abriu. No lado de dentro, estava de pé um velho alto, sem barba e com um comprido bigode branco, vestido de preto da cabeça aos pés. Trazia na mão uma velha lâmpada de prata, cuja chama lançava nas paredes sombras enormes. O velho fez-me sinal para entrar, com a mão direita, num gesto cortês, dizendo, em excelente inglês, mas com uma entonação estranha:
— Seja bem-vindo à minha casa! Entre por sua livre e espontânea vontade!
Não fez menção de avançar para vir ao meu encontro, deixando-se ficar imóvel como uma estátua, como se seu gesto de boas-vindas o tivesse petrificado. Logo que entrei, contudo, ele adiantou-se, impulsivamente, e apertou minha mão com uma força que me fez pestanejar, para o que também contribuiu o fato de sua mão ser fria como gelo — mais parecendo a mão de um morto que a de um vivo.
— Seja bem-vindo à minha casa — disse, de novo. — Entre à vontade, saia são e salvo e deixe aqui um pouco da felicidade que traz!
A força com que me apertou a mão era tão semelhante à que eu havia notado no cocheiro, cujo rosto não vira, que, por um momento, imaginei se os dois não seriam a mesma pessoa. Para me assegurar, perguntei:
— O Conde Drácula?
— Sou Drácula — respondeu ele, com uma mesura cortês. — E desejo-lhe boas-vindas à minha casa, Sr. Harker. Entre; a noite está fria e o senhor deve estar precisando comer e descansar.
Enquanto falava, colocou a lâmpada num nicho da parede e, antes que eu pudesse impedir, pegou minha bagagem. Protestei, mas ele insistiu:
— O senhor é meu hóspede. Já é tarde e meus criados não estão por aí. Deixe que eu mesmo cuide do senhor.
Fez questão de levar; ao longo de um corredor e de uma escada de pedra, após a qual seguiu por outro corredor de pedra, que terminava numa porta. No fim desse corredor, o Conde abriu uma pesada porta é regozijei-me, ao ver uma sala bem iluminada, com uma mesa posta para a ceia e uma lareira onde crepitava bom fogo.
O Conde depositou minha bagagem no chão, fechou a porta e, atravessando a sala, abriu outra porta, que dava para um pequeno quarto octogonal, iluminado por uma

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