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By Ferramentas Blog

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Gregório de Matos ja na época dizia.........

JUÍZO ANATÔMICO DA BAHIA
Que falta nesta cidade?-Verdade.
Que mais por sua desonra? -Honra.
Falta mais que se lhe ponha? -Vergonha.
demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Quem a pôs neste socrócio? -Negócio.
Quem causa tal perdição? -Ambição.
E o maior desta loucura? -Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que o perdeu
Negócio, ambição, usura.
Quais são seus doces objetos? -Pretos.
Tem outros bens mais maciços? -Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos? -Mulatos.
Dou ao demo os insensatos,
Dou ao demo a gente asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, mestiços, mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos? -Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas? -Guardas.
Quem as tem nos aposentos? -Sargentos.
Os círios lá vêm aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.
E que justiça a resguarda? -Bastarda.
É grátis distribuída?- Vendida.
Que tem, que a todos assusta? - Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa
que El-Rei nos dá de graça,
Que anda a justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
Que vai pela cleresia? -Simonia.
E pelos membros da Igreja? -Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha? -Unha.
Sazonada caramunha
Enfim, que na Santa Sé
que mais se pratica é
Simonia, inveja, unha.
E nos Frades há manqueiras? - Freiras.
Em que ocupam os serões? -Sermões.
Não se ocupam em disputas? - Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluís, na verdade,
Que as lidas todas de um Frade
São freiras, sermões, e putas.
O acúcar já se acabou? -Baixou.
E o dinheiro se extinguiu? -Subiu.
Logo já convalesceu? -Morreu.
A Bahia aconteceu
O que a um doente acontece,
Cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, subiu, e morreu.
A Câmara não acode? -Não pode.
Pois não tem todo o poder? -Não quer.
que o governo a convence? -Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma Câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.

DESCREVE A VIDA ESCOLÁSTICA
Mancebo sem dinheiro, bom barrete
Medíocre o vestido, bom sapato
Meias velhas, calção de esfola-gato
Cabelo penteado, bom topete;
Presumir de dançar, cantar falsete,
Jogo de fidalguia, bom barato,
Tirar falsídia ao moço do seu trato,
Furtar a carne à ama, que promete;
A putinha aldeã achada em feira,
Eterno murmurar de alheias famas,
Soneto infame, sátira elegante;
Cartinhas de trocado para a freira,
Comer boi, ser Quixote com as damas,
Pouco estudo: isto é ser estudante.

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